O encantamento humano pela passagem de tempo e pela inevitabilidade da morte já passou pelo cinema, bem como “O Curioso caso de Benjamin Button” e “O Retrato de Dorian Gray”. Nessa questão, é uma honra assistir filme com A Incrível História de Adaline, apesar de que esteja distante de chegar à profundidade psicológica e filosófica das obras acima, desvia da natureza do tema, preferindo a analise de suas consequências intimas.
No filme, Adaline (Blake Lively) sofre um acidente de carro, e por uma combinação de fatores, nunca mais envelhece. A juventude eterna poderia ter sido vista com uma vantagem, mas o roteiro interpreta-a como não sendo. Ela está condenada a ver todos morrerem ao seu redor, e tendo que se esconder para não ser considerada uma aberração.
O argumento não muito bom, por isso a escolha fantástica ao assumir tom de fábula. Um narrador retrata os passos desta história, com sarcasmo e cientificismo. Apesar de que ninguém cobraria uma explicação física deste filme, porém a narração justifica como o choque em contato com o corpo em estado de hipotermia, ela pararia de envelhecer. Esta teoria não existe, obviamente, mas com muito humor o narrador fala “ela só vai ser descoberta em 2035”. O filme brinca com sua própria falta de realismo.
Remetendo a questão de tempo e o passar das décadas de 20 até os dias atuais, levando consigo o telespectador, onde a história de amor acontece. Essa imersão é mérito da excelente produção de época realizada pela equipe de arte, extremamente bonita e detalhada. Depois de muitos romances interrompidos devido à sua condição, a história de amor que de fato é o elo do filme acontece entre Adaline e o apaixonado Ellis Jones (Michiel Huisman).
Nas cenas iniciais, onde Ellis dá suas primeiras investidas são românticas e ingênuas. Inevitavelmente, toda história de amor tem um quê de pieguice, e essa não foge à regra. Bem como, não se foge da pieguice, também não se escapa das cenas em que ocorre uma certa forçação de barra. Estamos falando de uma história cujo pano de fundo tem traços místicos e fantásticos, porém, daí dizer que é verossímil uma pessoa em pleno século XXI, cuja aparência não denota mais que 30 anos, dizer que nasceu em 1908 e as pessoas acreditarem nisso de primeira, sem nenhuma indagação ou descrença, é demais.